Guitarra de cartón	Antonio Torres havia percebido, no século XIX, que o tampo era o principal responsável pela geração de som no violão, e demonstrou essa teoria ao construir um violão com laterais e fundo de papel machê (foto à esquerda). No início dos anos 1980, o luthier australiano Greg Smallman desenvolveu um violão que reuniu inúmeras transformações em sua construção. Smallman passou a fazer as laterais e o fundo com múltiplas lâminas de madeiras sobrepostas, com a finalidade de aumentar sua rigidez e evitar que essas partes absorvessem as vibrações do tampo. Mas foi a utilização de um tampo muito fino, com uma estrutura interna com formato de treliça, feita em balsa e reforçada com fibra-de-carbono, a modificação mais importante para o grande aumento na projeção de som dos seus violões. Laterais laminadas e estruturas de tampo em formato de treliça já eram utilizadas por luthiers espanhóis nessa altura, mas Smallman conseguiu um instrumento diferenciado em termos de projeção de som. Por ser tão eficiente, esse violão projeta determinadas frequências que, numa construção tradicional, não são audíveis. Assim, esse violão tem um timbre diferente dos violões tradicionais e essa qualidade de som não é apreciada por muitos, que preferem o timbre tradicional. Apesar de ser um grande admirador da técnica desenvolvida por Smallman e da eficiência com que se comporta esse violão, eu pertenço ao grupo daqueles que preferem o timbre do violão tradicional. Assim, incorporei ao meu violão a utilização da balsa e fibra de carbono, com a intenção de melhorar a projeção e sustentação de som, mas de forma diferente da utilizada por Smallman.	Treliça com fibra de carbono de Greg Smallman
Greg Smallman

        A balsa é uma madeira muito leve e de crescimento rápido, nativa da América Central. Quando seca, pesa pouco mais de 100kg/m3 e é largamente utilizada para a construção de aeromodelos controlados por rádio. Ela, por si só, teria pouca resistência mecânica para suportar a tração gerada pelas cordas do violão, mas utilizando a fibra de carbono entre duas talas de balsa, como um sanduíche, é possível ganhar resistência mecânica sem aumentar o peso geral do conjunto. A partir de varetas feitas dessa forma, é que construo a estrutura interna dos violões, seja em formato de treliça ou de leque harmônico.

       A intenção ao utilizar essas varetas de balsa e carbono é diminuir o peso (massa) da estrutura interna do tampo sem perder resistência mecânica. Um tampo com essa estrutura poderá ser mais fino do que um tradicional e, como todo o conjunto será mais leve, as cordas poderão movimentá-lo com maior facilidade, aumentando a projeção sonora e diminuindo as perdas por fadiga mecânica.